18 janeiro, 2010

Café e Calor! Por Sérgio Besserman Vianna

Apesar de não gostar muito do que ele escreve e fala, este texto resumiu com perfeição o diálogo que tive semana passada:

Eu: Nossa que calor!
Vc: É mesmo...tá quente!
Eu: Vamos tomar café aonde?
Vc: Você escolhe, mas tem que ter ar (condicionado) no lugar!

Coragem Carioca

"Quando jovem nutri uma certa desconfiança dos rituais. Nada demais, parece-me razoável que jovens prefiram os corpos nus até aprenderem a valorizar os simbolismos e as sutilezas. Depois, aprende-se que toda vestimenta é uma exposição e toda nudez esconde algo ... E, claro, todo ritual mostra e esconde algo...
Aos dois anos de casado quase foi tudo por agua abaixo quando minha companheira entrou no pequeno apartamento no Leme e me flagrou lendo Xogum ( leram ou viram a série ? ) de quimono japones e uma espada na cintura ... achou que eu era maluco ... Poucos anos depois ela teve certeza, mas ai já era outra história...
Acho lindo o ritual do chá japones ... Mas a nossa cultura popular tambem cria seus rituais, tão sofisticados quanto...

Vejamos o caso do café coado. Há alguns anos era impossivel achar um bom café expresso. Isso mudou e hoje as opções são muitas e variadas. Mas, por outro lado, achar um bom café coado passou a ser dificil e, com isso, um ritual está ameaçado...

Nós, o povo, contudo, não desistimos fácil da cultura que mostra quem somos... Muitos sabados, ou domingos, ao flanar por Copacabana na companhia do Bolo pensando na crise economica, nas saias que esvoaçam, no aquecimento global, nos sorrisos que passam, me vejo praticando o espetacular e valoroso ritual do café coado no verão carioca...

E não sou só eu ... volta e meia encontro ali, malocados no mercadinho amarelo , Nossa Senhora, calçada oposta à Menescal, companheiros resistentes e apreciadores do cafézinho e seu ritual ...

Como é isso ? Assim : calor infernal, café coado de qualidade quentííísíiiiimo, na xicara e pires recém retirados da aqua fervendo e muito, muito, muito quentes, impossivel beber sem queimar dedos, lingua e lábios ( prejuizo terrivel, voces podem imaginar... ) e sim, nós bebemos...

Uma arte, um ritual tão sofisticado quanto o japones do chá, só menos glamourizado pelas midias internacionais...

Trata-se de segurar a xicara com a ponta dos dedos nos microsegundos exatos para não queimar, soprar, encostar os lábios, sorver mais rápidamente do que a pele queima, baixar rápidamente a xicara e aguentar firme o calor descendo pelas tripas e tornando o corpo por dentro mais quente do que o calor do verão faz com o corpo por fora...

Como se o ritual desafiasse o calor , esse calor que nesse momento nos cozinha lentamente, mas que com a coragem e sutileza unica dos cariocas, nós, no mercadinho amarelo em Copacabana, no café Palheta na Saens Pena, no terminal Menezes Corte no centro, aqui e ali, nós desafiamos e dizemos : tá quente sim, vamos tomar um café ?"

Por Sérgio Besserman Vianna

Fonte: http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/besserman/posts/2010/01/12/cafe-calor-256847.asp

4 comentários:

Anônimo disse...

Gostei do texto também.
Em casa, só bebo café coado. Já tentei cafeteira italiana e a french press. Ainda preiro o coado.

bjo,
Nina (Gourmandise).

espressa-mente! disse...

Nina,
Pra semana vou experimentar French press com moagem para tal. Recentemente, li uma matéria que conta a historia de um senhor que está multimilionario fabricando as tais "meias" de coador de pano! Muito legal!
bj,
EM!

Anônimo disse...

Ontem fomos tomar café no N'O (na Vila Madalena, conhece?). Pedimos dois curtos, um orgânico e um Dona Mathilde. O orgânico veio perfeito, já o outro não estava no mesmo nível. Quando terminamos, a atendente trouxe mais dois espressos Dona Mathilde dizendo que o barista havia feito novamente já que a crema do primeiro estava aberta!
Só cobraram dois espressos.
Fiquei tão feliz. Ainda existem pessoas que se levam à sério.

bjo - só passei aqui para te contar

Nina (Gourmandise).

Paula T. Jando disse...

A fundamental diferença entre o café coado e do expresso, do italiano, do french, do birmaniano e do somali...

É QUE NO COADOR É MAIS FORTE!!!!

Inevitável, mas É.